terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cultura da Periferia Atinge a Classe Média

Coreografias ensaiadas; uniformes personalizados e a mesma trilha musical: O “Tecnobrega”. Esse é o mundo em que Íris Passos, 24 anos, e suas amigas da Equipe Tubarão estão inseridas. Fãs declaradas das festas de aparelhagens de Belém, elas garantem que o circuito “Tecnobrega” é hoje em dia um dos destaques da cultura paraense. Lugar para todos os públicos, esse fenômeno rompeu barreiras sócias e geográficas e está no topo das opções de entretenimento para quem gosta de dançar e se divertir sem grandes preocupações.
Antes relegadas aos guetos dos subúrbios, as festas de aparelhagem têm mudado seus aspectos mais tradicionais e, ao mesmo tempo, estão mais próximas do centro. O meio acadêmico passa a olhar esses shows com interesse científico, como fenômeno da cultura de massa produzida na periferia. Foi com base nisso que o antropólogo Antônio Maurício Dias da Costa passou a analisar a fundo o significado do que ele chama de “Festas Populares Heterogêneas”. O estudo resultou no livro “Festa na Cidade: O Circuito Bregueiro de Belém do Pará”, que foi lançado no dia 24 de outubro deste ano no Instituto de Ciências da Arte na UFPA. “O circuito é muito dinâmico e movimenta o mercado como um todo. Em geral, as aparelhagens são empresas familiares, mas, incluem caminhoneiros para transportar, marceneiros para fazer as caixas de som, técnicos em eletricidade, vendedores e muitos outros”, explica Antônio em seu livro.
Os freqüentadores das festas também deram passos significativos para a Ascensão Social. A maior parte dos membros da Equipe Tubarão, por exemplo, tem curso superior. “As aparelhagens eram populares, mas, hoje tem muita gente de Classe Média Alta lá, curtindo. O público ficou mais heterogêneo e no final das contas, todos querem se divertir”, diz Íris. A pesquisa do antropólogo confirma a fala de Íris. Para ele, dizer que são festas do povão é uma forma simplificada de mostrar que pessoas de todos os cantos da cidade as freqüentam e um incentivo à isso é o fator econômico: nas aparelhagens, não se gasta nem R$ 30 por noite. Os ingressos custam R$ 10 e boa parte das “equipes” entra com cortesias. Se fosse para boates, só a entrada custaria mais de R$ 40 reais.
O Tecnobrega

O Movimento Bregueiro de Belém, segundo pesquisas de Antônio da Costa - antropólogo, nasceu na década de 70, a partir do trabalho de gravadoras locais, sobretudo a Gravasom, na década de 80. Depois de 1980, o gênero se difundiu com mais intensidade e, em 1990, começou a conquistar a Classe Média e públicos distintos.
Ao longo dessa evolução Bregueira, uma característica permaneceu: A dança. As coreografias são a grande tônica dessas festas. Alguns dizem que o brega é um Bolero mais agitado, ou seja, há vários significados. Mas, de uma forma geral, a dança liga a música aos movimentos. As meninas da Equipe Tubarão ensaiam, têm suas próprias coreografias e chamam a atenção durante as festas. “Não são ensaios fixos, mas, estamos sempre preparadas para dançar todas as músicas, desde o tecnobrega até o funk, o forró e o pagode”, diz Íris.
Uma constatação, no entanto, ofusca o sucesso dessas festas. Segundo dados da Delegacia de Polícia Administrativa pelo menos metade das aparelhagens não é registrada. A ilegalidade não impede esses eventos, mas, a quantidade de dinheiro envolvido deveria preocupar. Em 2003, o valor dos contratos para essas festas chegava a R$ 6 mil, atualmente as somas dobram.

Por Adenilson Malato
Edição: Luciano Pinto
Fotos: Divulgação

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